Nossas Devocionais

Os 24 anciãos e a consagração do Novo Templo

por

André Galvão Soares

Cordeiro de Deus

“E, ao redor do trono, havia vinte e quatro tronos; e vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes brancas; e tinha sobre a cabeça coroas de ouro.” (Ap 4:4)

Um intérprete do livro de Apocalipse deve estar cônscio de que o objeto de seu estudo foi construído por meio do emprego profuso de uma linguagem alegórica e simbólica, a qual foi meticulosamente elaborada com base em figuras, instituições e conceitos do Antigo Testamento. É, portanto, imperativo, ao lidarmos com a obra joanina, que tenhamos sempre em mente o substrato literário, cultural e conceitual sobre o qual Apocalipse se ergue: os escritos veterotestamentários, a cujas páginas nos reportaremos constantemente em nossa análise da figura dos 24 anciãos.

Sublinhamos, ademais, que não é conveniente nos aproximarmos de Apocalipse meramente como pesquisadores que almejam ter suas curiosidades satisfeitas, mas como crentes que aspiram intensamente ao conhecimento de Deus – conhecimento que gera temor e maravilhamento; conhecimento que nos faz, assim como a João, cair aos pés de Cristo como mortos (Ap 1:17), mas que também nos leva, assim como a Pedro, a exclamarmos: “Senhor, bom é estarmos aqui!” (Mt 17:4). Buscaremos, então, ao longo de nosso texto, não apenas definir o significado do símbolo dos 24 anciãos, mas intentaremos fazê-lo de tal maneira que o amor dos nossos leitores por Deus seja agigantado.

O ofício sacerdotal e levítico

No Antigo Israel, Deus escolheu a tribo de Levi para operacionalizar e oficiar os serviços cultuais. Entre os descendentes do terceiro filho de Jacó, àqueles que pertenciam à linhagem dos aronitas tocava o sacerdócio, enquanto os demais levitas eram responsáveis pela administração e transporte do Tabernáculo. Havia, portanto, uma nítida distinção entre o ofício levítico e o sacerdotal. Depois, porém, da centralização do culto em Jerusalém, quando o traslado da Tenda da Congregação não era mais necessário, o rei Davi reestruturou o ministério dos levitas, conferindo-lhes novas atribuições, tais como o canto, a guarda, a portaria e a tesouraria (cf. I Cr 23-26). Coube também ao célebre monarca a criação dos 24 turnos sacerdotais, aos quais correspondiam as 24 equipes de cantores levitas. É com base nessa nova e definitiva organização da tribo de Levi que foi elaborada a figura dos 24 anciãos.

A fim de entendermos o que eles representam, é necessário, em primeiro lugar, que, a partir da narrativa de Apocalipse, notemos que o ofício que eles desenvolvem é, eminente e simultaneamente, sacerdotal e levítico, como nos desvela Ap 5:8-9:

“E, havendo [o Cordeiro] tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um novo cântico…”

Devido aos propósitos deste texto, deixaremos de lado a representatividade dos quatro animais e a íntima relação que estabelecem com os 24 anciãos. O que nos interessa, por ora, é que, segundo o versículo, estes últimos portavam harpas e salvas de ouro cheias de incenso. Os 24 anciãos, então, profetizam com harpas (I Cr 25:1), assim como os levitas, e realizam cerimônias de libação com incenso, assim como os sacerdotes (cf. Ex 25:29; Lv 24:5-9; I Sm 21:1-7). Eles são, portanto, 24 músicos e, ao mesmo tempo, 24 sacerdotes. Dada a natureza de seu ministério celestial, é impossível, por conseguinte, que não os relacionemos com os 24 turnos sacerdotais de I Cr 24 e com as 24 equipes musicais de I Cr 25.

Contudo, no Antigo Israel, apenas um turno sacerdotal e uma equipe levítica exerciam, por vez, os ofícios sacerdotais e musicais no Templo, respectivamente. Não havia ocasiões em que todos os 24 turnos de sacerdotes e as 24 equipes de levitas se concentravam simultaneamente na Casa de Deus. Ademais, as incumbências das equipes sacerdotais e dos grupos levíticos eram claramente distintas, de modo que aos sacerdotes era vedado exercerem as funções levíticas e aos levitas, da mesma forma, não cabia o exercício do sacerdócio (cf. II Cr 13:9-10). Como, então, é possível que os 24 anciãos sejam identificados com os 24 turnos sacerdotais e, ao mesmo tempo, com as 24 equipes levíticas? Em outras palavras, por que os 24 anciãos, assim como os levitas, portavam harpas e, como os sacerdotes, carregavam salvas de ouro cheias de incenso, uma vez que as delegações de ambos os grupos eram distintas e restritas aos seus membros?

Definido o caráter ambivalente do ministério dos 24 anciãos, que são, simultaneamente, sacerdotes e levitas, devemos nos perguntar, em seguida, se, no Antigo Testamento, houve ocasiões em que todos os turnos sacerdotais e levíticos serviram conjunta e intercambiavelmente no Templo; posto que, em caso afirmativo, o Senhor provavelmente tome essas ocorrências como fundamento imagético para Ap 5:8 e queira remeter a elas as nossas mentes, a fim de que sejamos capazes de entender a revelação. Felizmente, podemos colher das páginas do Antigo Testamento exemplos que nos atestam que, de fato, houve situações em que os turnos sacerdotais, além de praticarem seus ofícios costumeiros, assumiram o encargo levítico de louvor com instrumentos e cantos, enquanto as equipes levíticas, embora exercendo o seu ministério habitual, adotaram, provisoriamente, o ofício sacerdotal. Os eventos aos quais nos referimos possuem a mesma estrutura: o Templo de Jerusalém é, por ordem de um governante da dinastia davídica e em meio a sacrifícios e louvores, consagrado a Deus. Em ordem cronológica, esses acontecimentos foram: a consagração do Primeiro Templo, que foi construído pelo rei Salomão; a sua posterior rededicação durante o reinado de Ezequias; e as duas consagrações do Segundo Templo, na época de Zorobabel. A propósito do primeiro desses eventos, II Cr 5:11-14 nos informa:

“E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário (porque todos os sacerdotes, que se acharam, se santificaram, sem guardarem as suas turmas), e quando os levitas, cantores de todos eles, isto é, Asafe, Hemã, Jedutum, seus filhos e seus irmãos, vestidos de linho fino, com címbalos, e com alaúdes e com harpas, estavam em pé para o oriente do altar, e com eles até cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas, e quando eles uniformemente tocavam as trombetas e cantavam para fazerem ouvir uma só voz, bendizendo e louvando ao Senhor, e quando levantavam eles a voz com trombetas, e címbalos, e outros instrumentos músicos, para bendizerem ao Senhor, porque era bom, porque a sua benignidade durava para sempre, então, a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a Casa do Senhor; e não podiam os sacerdotes ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor encheu a Casa de Deus.”

Outrossim, em II Cr 29, remontando à rededicação do Primeiro Templo empreendida pelo rei Ezequias – haja vista sua terrível profanação ao longo do reinado de Acaz –, o cronista assevera, nos vs. 25-28 e 34:

“E [Ezequias] pôs os levitas na Casa do Senhor com címbalos, com alaúdes e com harpas, confome o mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã, porque este mandado veio do Senhor, por mão de seus profetas. Estavam, pois, os levitas em pé com os instrumentos de Davi, e os sacerdotes, com as trombetas. E deu ordem Ezequias que oferecessem o holocausto sobre o altar, e, ao tempo em que começou o holocausto, começou também o canto do Senhor, com as trombetas e com os instrumentos de Davi, rei de Israel. E toda a congregação se prostrou quando cantavam o canto, e as trombetas tocavam; tudo isso, até o holocausto se acabar […]. Eram, porém, os sacerdotes mui poucos e não podiam esfolar a todos os holocaustos; pelo que seus irmãos, os levitas, os ajudaram, até a obra se acabar e até que os outros sacerdotes se santificaram…”

Quando, ainda, da primeira consagração do Segundo Templo – visto que, em 586 a.C., o primeiro havia sido destruído pelas tropas de Nabucodonosor –, o qual foi construído durante o governo de Zorobabel, sacerdotes e levitas, uma vez mais, unificaram-se, conforme o registro de Ed 3:10-11:

“Quando, pois, os edificadores laçaram os alicerces do templo do Senhor, então, apresentaram-se os sacerdotes, já paramentados e com trombetas, e os levitas, filhos de Asafe, com saltérios, para louvarem ao Senhor, conforme a instituição de Davi, rei de Israel. E cantavam a revezes, louvando e celebrando ao Senhor, porque é bom; porque a sua benignidade dura para sempre sobre Israel. E todo o povo jubilou com grande júbilo, quando louvou o Senhor, pela fundação da Casa do Senhor.”

Por fim, depois de o Segundo Templo ter assumido sua forma definitiva, o texto de Ed 6:16, de maneira abreviada e concisa, nos conta que ele foi reconsagrado:

“E os filhos de Israel, e os sacerdotes, e os levitas, e o resto dos filhos do cativeiro fizeram a consagração desta Casa com alegria.”

Em que ocasiões, então, os 24 turnos sacerdotais se uniam com as 24 classes levíticas? Na consagração ou reconsagração do Templo de Jerusalém. Assim, levando-se em conta que, em Ap 5:8, os 24 anciãos são representados como 24 sacerdotes que exercem também o ofício levítico, podemos seguramente estatuir que a intenção do Senhor é utilizar os eventos correlatos do Antigo Testamento como substrato imagético para os acontecimentos que nos são relatados ao longo do capítulo 5 – ou, em outras palavras, as consagrações do Templo de Jerusalém são correlatas à ação que João nos apresenta nesse capítulo. Chegamos, portanto, à inequívoca conclusão de que o ambiente celestial de fervorosa adoração a que Ap 5 nos introduz se deve à consagração de um Novo Templo, e esse Templo é a Igreja de Deus, composta por homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação (Ap 5:9). Não se trata mais de um Templo físico e terreno, mas de um Templo espiritual, o qual, em vez de ser composto por pedras rústicas e sólidas, ergue-se como um firme edifício de pedras vivas (I Pe 2:5). O apóstolo Paulo – ele próprio, um judeu –, em I Co 3:16, reconheceu que a Igreja era o Novo Templo de Deus: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” E, ainda, em II Co 6:16, ele postula: “E que concórdia tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: ‘Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo’”.

O Novo Templo de Deus, erguido em substituição ao Templo de Jerusalém, é robustamente composto pela Igreja militante, isto é, os cristãos que ainda se acham em combate contra Satanás, o pecado e a carne. São crentes que ainda estão vivos e que, portanto, não adentraram os portais eternos da Nova Jerusalém, embora, como infatigáveis peregrinos, estejam a caminho dela, desejosos de estarem na sua Pátria Celeste. Esse é, pois, o Templo que, em Ap 5, é consagrado a Deus, em meio ao alegre louvor e serviço dos 24 anciãos sacerdotais e levíticos.

Quando Davi centralizou o culto no santuário de Jerusalém, os israelitas não estavam autorizados a construírem templos que rivalizassem com o da capital. Da mesma forma, quando Salomão construiu o Templo de Jerusalém e o consagrou a Deus, a todos os seus súditos estava vedada a construção de outro santuário, ainda que fosse erguido na própria capital. Quando Ezequias e Josias rededicaram o Templo ao serviço exclusivo de Jeová, destruíram todos os santuários rivais, pois o culto que Deus aprovava era apenas o que prestavam a Ele no Templo de Jerusalém e em conformidade com a Lei (cf. Dt 12:1-19). Similarmente, quando o Segundo Templo foi edificado e consagrado ao Senhor, nenhum outro lugar poderia comportar o culto ao Deus de Israel. Assim, quando, em Ap 5, o Novo Templo é consagrado a Deus, denota-se que Ele não aceita culto algum além daquele que lhe é prestado pela Igreja e em conformidade com as suas prescrições. Logo, por implicação, se Deus havia consagrado para si um Novo Templo, o antigo já não tinha mais valor. Os sacrifícios que, diariamente, eram oferecidos sobre o altar do Templo de Jerusalém não eram mais úteis. O cheiro que emanava do altar de incenso não mais agradava o olfato do Senhor. Os sacerdotes e levitas que continuavam oficiando os serviços cultuais agiam em desconformidade com as deliberações de Deus, que havia rejeitado o Templo de Jerusalém e consagrado para si um Novo Templo, onde Ele seria adorado em espírito e em verdade (cf. Jo 4:21-24). A destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 d.C. patenteou tanto a sua rejeição por parte de Deus quanto a veracidade da consagração do Novo Templo, a Igreja de Cristo.

Infelizmente, muitos cristãos hodiernos, em vista das notícias e boatos de que, em breve, a construção de um Terceiro Templo deve ser efetivada, parecem intensamente desejosos de, se possível, com as próprias mãos, colocarem pedra sobre pedra e reerguerem a Casa que o Senhor rejeitou e da qual se mudou. Eles, em seu íntimo, invejam aqueles que, supostamente, descendem de Levi, pois ambicionam o serviço no Templo. Há neles a pretensão de reacenderem o fogo do altar, a disposição de imolarem animais e os oferecerem a Deus em holocausto, o intenso desejo de recosturarem o véu que o Senhor, por descuido, rasgou. Entretanto, o texto de Ap 5 rechaça a atitude insensata desses modernos judaizantes, à medida que nos ensina que Deus abandonou o Templo de Jerusalém e consagrou um Novo Templo para si mesmo – a Igreja, comunidade composta por pessoas das mais diferentes nacionalidades e provenientes das mais remotas culturas; pessoas que têm diferentes tipos de sangue correndo em suas veias e que pertencem a linhagens que Abraão jamais conheceu.

O ofício real

Os 24 anciãos não são, contudo, apenas sacerdotes levíticos, mas também reis. No capítulo 4, assim que nos são apresentados, João, nos vs. 4 e 9-11, descreve-os com as seguintes palavras:

“E ao redor do trono havia vinte e quatro tronos; e vi assentados sobre os tornos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes brancas; e tinham sobre a cabeça coroas de ouro […]. E, quando os animais davam glória, e honra, e ações de graças ao que estava assentado sobre o torno, ao que vive para todo o sempre, os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, adoravam o que vive para todo o sempre e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: ‘Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.’”

Portanto, os 24 anciãos são reis e sacerdotes levíticos. Levando em conta esse novo dado, a identificação deles torna-se mais simples, pois podemos relacioná-lo com outras informações do próprio livro. Em Ap 5:9-10, a propósito da redenção que Jesus propiciou aos gentios, os anciãos, maravilhados, exclamaram:

“Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação; e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes, e eles reinarão sobre a terra.”

Em Ap 7:14-15, um dos anciãos informa a João que a multidão que ele contemplava, a qual era composta por homens de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas (v. 9), consistia em gentios que, havendo abraçado a fé cristã, tinham sido martirizados por conta dela, haja vista as terríveis perseguições a que, desde a morte de Cristo e, em especial, na década de 60 do primeiro séculos, os cristãos foram submetidos:

“Estes são os que vieram de grande tribulação, lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra.”

Na primeira citação, os gentios que aderem ao cristianismo são chamados pelos anciãos de reis e sacerdotes, e, na segunda, é dito a respeito deles que desenvolvem o mesmo ofício sacerdotal que os 24 anciãos, posto estarem diante do trono de Deus e o servirem de dia e de noite no seu templo. Portanto, os gentios, à medida que, em decorrência da perseguição à Igreja, dormem e são levados aos Céus, passam a exercer os mesmos encargos que os 24 anciãos: são reis e sacerdotes. É razoável, então, que concluamos que os 24 anciãos, assim como os seus companheiros gentios de ministério, são seres humanos que, depois de mortos, foram levados à presença do Senhor, dado o ofício sacerdotal e real que ambos os grupos exercem.

Uma vez que cheguemos a essa conclusão, devemos notar, no texto de Ap 5, que, no momento em que o Cordeiro vencedor adentra os Céus, os 24 anciãos já estavam lá. Assim, havendo nós já definido que eles eram humanos que, depois de mortos, tinham sido levados à presença divina e também que eles já se achavam nos Céus quando Cristo, através de sua morte e ressurreição, efetuou a obra de inclusão dos gentios na família da fé, torna-se impossível não concluirmos que os 24 anciãos sacerdotais e reais são uma representação de todo o povo de Deus que, no Antigo Testamento, foi fiel a Ele e esperou confiante na sua promessa de que, um dia, o Messias se manifestaria e expiaria os pecados que nem mesmo todos os rebanhos de Israel poderiam expiar (cf. Mq 6:7). Essa interpretação se torna ainda mais evidente quando trazemos à baila outros conceitos do Antigo Testamento, como, por exemplo, os expressos em Ex 19:4-6:

“Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águia, e vos trouxe a mim; agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu concerto, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha. E vós me sereis reino sacerdotal e povo santo.”

Deus prometeu aos israelitas fieis que faria deles um reino sacerdotal. É por isso que esse conceito é retomado em Apocalipse e aplicado à totalidade dos homens que, no Antigo Testamento, haviam sido fieis a Deus, os quais são apropriadamente representados, na obra joanina, como sacerdotes levíticos, embora a maioria deles não descendesse de Levi. É perfeitamente aceitável que todos os crentes da Antiga Aliança sejam abarcados por essa figura, visto que, assim como Deus, dentre todos os povos, tomara Israel como propriedade peculiar sua, Ele também escolhera, dentre todas as tribos de Israel, a tribo de Levi para servi-lo, em substituição a todas as outras tribos. A nação fiel, em sua integralidade, era, para Deus, um reino sacerdotal, mas o seu sacerdócio era oficiado através da tribo de Levi, cujos naturais haviam sido tomados em substituição aos primogênitos de todas as outras tribos de Israel, como nos atesta Nm 3:12-13:

“E eu, eis que tenho tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo o primogênito que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus. Porque todo primogênito meu é; desde o dia em que feri a todo o primogênito na terra do Egito, santifiquei para mim todo o primogênito em Israel, desde o homem até ao animal; meus serão; eu sou o Senhor.”

Os levitas, então, havendo sido tomados em lugar dos primogênitos de todas as outras tribos e oficiando o sacerdócio em lugar de toda a nação, representam a totalidade de Israel. Em outras palavras, através do serviço da tribo de Levi, todos os israelitas serviam a Deus e compunham, assim, um reino sacerdotal. Portanto, ao apresentar-nos os 24 anciãos como 24 sacerdotes levíticos, o livro de Apocalipse quer nos remeter à representatividade da tribo de Levi, que, ao exercer os serviços no Templo, fazia-o em lugar de todo o Israel. Os 24 anciãos são, pois, uma representação da totalidade dos israelitas que, no Antigo Testamento, servia a Deus com fidelidade.

É pertinente destacarmos que, assim como os 24 anciãos são-nos apresentados como reis e sacerdotes, os gentios também o são. Logo, também a estes o apóstolo Pedro pôde estender, com acuidade, a promessa de Ex 19:4-6: “Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido…” (I Pe 2:9). Assim, tanto os crentes da Antiga Aliança quanto os da Nova Aliança são, em consonância com a mensagem de Apocalipse, um reino sacerdotal ou um sacerdócio real. Isso nos ajuda a fazer enxergar que, de fato, os 24 anciãos não são seres angélicos, como alguns propõem. Eles, necessariamente, devem ser seres da mesma natureza que a multidão de Ap 5:9-10 e 7:9-17, isto é, seres humanos que foram elevados aos Céus depois de sua morte. A diferença entre os 24 anciãos e os homens que compunham essa multidão é apenas o momento em que chegam à Pátria Celeste, como demonstramos acima.

O alegre louvor que os 24 anciãos dirigem ao Cordeiro por conta de sua obra redentora em favor de pessoas provenientes de todos os lugares do mundo opõe-se à atitude hostil dos judeus do primeiro século para com as nações gentílicas e também ao exclusivismo denominacional do qual muitos cristãos, hoje em dia, se ufanam. Assim como, nos dias em que o Senhor exerceu o seu ministério terreno, grande parte dos judeus se mostrava propensa a se orgulhar tanto de sua ascendência abraâmica que imaginava que ela lhes garantisse, não obstante o seu coração hipócrita e dividido, uma posição privilegiada diante de Deus (cf. Jo 8:39), há, nos nossos dias, pessoas que acreditam que, por fazerem parte, desde a infância, de uma igreja batista, presbiteriana ou anglicana, estão seguros e salvos, embora conservem um coração perfeitamente frio, hipócrita, morto, apático e sem fervor.

Os 24 anciãos, sendo uma representação dos nossos irmãos da Antiga Aliança, alegraram-se sobremaneira ao terem conhecimento da extensão da obra do Messias. De igual modo, convém que nos regozijemos sinceramente por conta da grandiosidade da obra do nosso Salvador, que salvou tanto a judeu quanto a gregos. Finalizamos o nosso texto com a citação de George Whitefield com a qual já havíamos aberto o nosso último artigo, que versava sobre o exclusivismo batista:

-Pai Abraão, quem está com você nos céus? Os episcopais?

-Não!

-Os presbiterianos?

-Não!

-Os independentes ou metodistas?

-Não, não, não!

-Quem está com você?

-Nós, aqui, não sabemos seus nomes. Todos os que estão aqui são cristãos – crentes em Cristo – homens que venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra de seu testemunho.

-É esse o caso? Então, Deus, me ajude, Deus, nos ajude a esquecer o nome de grupos e nos tornarmos cristãos de verdade.

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